Gente que Inspira

Por: Sabine Schaade

Professora de artes do Centro de Educação para Surdos Rio Branco, Fabiane Ribeiro Spinetti, nasceu em Araguari, Minas Gerais e é a única surda em uma família de 6 irmãos.
Fabiane estudou no Instituto Santa Terezinha em uma época em que a Libras era proibida e a oralização era obrigatória:
"Nós não podíamos sinalizar na escola. Era proibido! Mas, é claro que não adiantava proibir. Quando as freiras saíam de perto sinalizávamos escondido!", relata Fabiane que trabalhou por muitos anos em um banco e nem pensava em ser professora, até chegar para uma entrevista de emprego no CES Rio Branco, onde teve a grata surpresa de ver crianças surdas sinalizando desde cedo.

Confira a seguir essa incrível história de vida:

1- Nome, data e local de nascimento:
Meu nome é Fabiane. Nasci em Araguari, Minas Gerais no dia 1 de julho de 1966, mas, logo me mudei para São Paulo, para estudar.

2- Nasceu surdo ou ficou surdo como?
Sim, nasci e sou a única surda em uma família de 6 irmãos.

3- Sempre usou Libras? Se não, quando que ela se tornou sua 1ª língua?
Não! Antigamente a Libras era proibida, precisava oralizar de qualquer jeito.
A comunicação não acontecia. Muitas vezes fingia que entendia o que me falavam porque não entendia tudo. Depois é que fui perceber o quanto a LIBRAS era importante.

4- Estudou em escolas para surdos ou ouvintes?
Estudava em uma escola para surdos, mas na minha época era oralista e a Libras era proibida o que não adiantava muito porque fazíamos escondido.
Estudei lá dos 5 aos 11 anos e, depois, mudei para uma escola de ouvintes o que foi horrível! Troquei, novamente, de escola onde fiquei até a 8ª série.
No colegial estudei novamente em um colégio de ouvinte.
A faculdade, também, não foi fácil!
Não tinha interprete, nada! Terminei em 2000 e a Lei de LIBRAS surgiu em 2002.

5- Você tem alguma lembrança de algum preconceito sofrido na infância ou adolescência?
Foi uma fase difícil?

Sim, existiu!
Também acontecia, por exemplo, de uma pessoa chegar perto, começar a falar comigo, eu não entender, avisar que sou surda e pedir para a pessoa falar devagar e ela se desculpar e sair andando...
Na verdade, algumas pessoas têm medo, receio e não sabe como se comunicar.

6- Como é a comunicação com a sua família?
A comunicação era difícil porque tentavam me oralizar e muitas vezes não entendia o que falavam.
Eu morava na instituição que estudava e só ia para casa nas férias de julho e dezembro, então, não tinha contato nenhum com a família fora desse período. Meu irmão menor, por exemplo, não sabia nem que eu era irmã dele.
Me lembro uma vez, logo quando eles se mudaram para São Paulo e eu comecei a ficar mais perto da família, que ele, meu irmão, se espantou em me ver chamando nossa mãe.
Ele não sabia que eu era surda e nem que eu era irmã dele.

Acontecia muito dos meus irmãos estarem conversando entre eles e esquecerem de me colocar na conversa. Se eu perguntava o que eles estavam falam e respondiam algo bem resumido. Eu questionava: "Só isso?" E eles respondiam: " É muito difícil ficar te explicando..."
Hoje, é diferente. Meu filho é ouvinte. Ele sabe LIBRAS mesmo sem eu nunca ter ensinado! Ele aprende naturalmente.

7- Hoje você é professora. Houve dificuldades para realizar esse sonho, quais?
Eu trabalhei por muitos anos em um banco. Fiz faculdade “por fazer”, para passar tempo mesmo, não pensava em ser professora. E tudo era muito difícil! Não tinha interprete, nada...
Faltando um ano mais ou menos para me formar fui a uma instituição fazer outro curso e lá encontrei o Alexandre, também, professor do CES. Ele disse que a escola estava procurando um professor surdo para dar aula de artes, mas não dei muita atenção.
As pessoas já me falavam que eu combinava como professora, mas não queria não!
Até que um dia aceitei fazer uma entrevista e quando cheguei aqui me apaixonei e estou até hoje!

8- Quais são os seus Sonhos?
Eu sonho com um futuro onde as pessoas saibam LIBRAS.
Torço para que as famílias de surdos entendam a importância da língua e aprendam a se comunicar com os filhos.

Fabiane

"Nós não podíamos sinalizar na escola. Era proibido! Mas, é claro que não adiantava proibir. Quando as freiras saíam de perto sinalizávamos escondido!", relata Fabiane.